Não bastasse a não continuação das obras de transposição do rio São Francisco, os sertanejos convivem também com a paralisação de outra empreitada, igualmente anunciada com pompa e circunstância pelo governo federal, dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC): a ferrovia Transnordestina. Prevista para ter 1.728 quilômetros de extensão, ela já deveria estar interligando o sertão ao litoral.— Eu penso que, mesmo que meus netos morram velhos, não verão nem transposição nem ferrovia — diz o produtor rural Luiz Carlos de Lira.
A equipe do GLOBO viajou mais de 1.500 quilômetros pelo sertão sem observar um só operário em ação nos dois empreendimentos que se cruzam em diversas localidades, como ocorre no povoado de Malhadinha, no município de Custódia, a 335 quilômetros de Recife. Ali, um viaduto da Transnordestina passa por cima de um canal do Eixo Norte da transposição, cujas paredes, na falta de água que as conservem, já ostentam remendos nas rachaduras no concreto provocadas pelo sol.
Os canais não receberam uma só gota do Velho Chico. E o viaduto, com as cabeceiras desconectadas, é um esqueleto de concreto que liga o nada a lugar nenhum. Com cerca de 50 metros de extensão, ele não tem brita, dormentes nem trilhos.
Mais dez quilômetros de estrada barrenta no meio da caatinga, dessa vez no vilarejo de Cacimbinha, e as duas obras se cruzam novamente. É água que não chega e o trem que ninguém sabe quando vai passar: a ponte sobre o Rio Marrecas com escadas improvisadas e cabeceiras desconectadas virou antro de ladrões. Moradora do povoado, Maria Rita Virgínio Freire, de 60 anos, para o carro de mão em que leva milho para os bichos. E o faz para reclamar:
— Não tem nada terminado de nada. É só cutucada em todo canto. Essas duas obras só trouxeram desassossego. Aqui a vida acabou.
Antes recolhida à tranquilidade do seu sítio, ela chega a desafiar os ladrões que costumam acorrer ao local para roubar brita, ferro, blocos de concreto, cercas e material abandonado pela empreiteira que era encarregada da obra e que abandonou os seus canteiros. Ela afirma que às vezes acorda assustada, à noite, com o barulho dos ferros sendo jogados ponte abaixo, no leito seco do rio. De lá, são transportados em camionetes para o mercado negro.
— Tem uns que, para fingir que são empregados, vêm de roupa amarela (cor usada pelos operários que trabalharam na obra). Quando eu reclamo, eles dizem que podem roubar, que o material é do governo — conta.
Ela teme que as encostas abertas às margens da ferrovia desabem com as chuvas. Sem proteção que contenha a erosão, as marcas do fenômeno já são visíveis até para os leigos. E os desabamentos tanto podem ocorrer sobre os trilhos, quanto ao lado deles, onde há pedras imensas rolando.
Na última quinta-feira, o agricultor João Bosco Amorim, de 63 anos, residente no mesmo vilarejo, já tinha cavalgado mais de doze quilômetros em busca das cabras perdidas na caatinga.
— Perdi um “móio” de cabras. Umas cinquenta sumiram — afirma o agricultor, que teve sua propriedade dividida em três pedaços, dificultando o controle dos bichos no pasto.
Ele recebeu R$ 900 de indenização pela transposição e R$ 5 mil pelas terras perdidas para a ferrovia. Mas diz que o prejuízo foi muito maior, inclusive porque não pôde vender madeiras que caíram com o desmatamento da caatinga no sítio.
Acordos com moradores não cumpridos
Reclamações também tem o produtor Pedro Neumar Henrique de Souza, de 57 anos, um dos donos da Fazenda Samambainha, a 18 quilômetros do centro de Custódia. Ele foi procurado por um preposto da empreiteira, que lhe pediu para utilizar a água do açude de sua propriedade. Em troca, a empresa lhe cederia máquinas para aumentar a profundidade do reservatório.
Souza mostra documentos que comprovariam que, por seis meses, cem caminhões pipa diários de 20 mil litros cada foram utilizados para abastecer as obras. No entanto, quando a Transnordestina desandou, a obra prometida não foi realizada, e o açude secou, deixando 50 bovinos e 200 caprinos com sede. Agora, o fazendeiro briga na Justiça por indenização de R$ 6 mil por dia pela água que saiu de graça para a empreiteira, pelo acordo não cumprido (de ampliar o açude) e pelas 15 toneladas de peixe perdido.
Problema semelhante teve Luiz Carlos de Lira, que também responde pela Diretoria de Obras da Prefeitura de Custódia. Apesar de habituado à burocracia do serviço público, deixou o costume sertanejo de fazer acordos verbais falar mais forte. Permitiu a retirada de água do Rio Malhadinha, que corta sua propriedade, em troca de melhoria e ampliação do açude para resistir à seca. Foram 80 caminhões pipa de 20 mil litros por mais de mês. Quando viu o rio reduzido a um fio de água, impediu a retirada, e o contrato de boca acabou. Hoje, estuda forma de exigir os seus direitos na Justiça.
— Não foi só ele e eu não. Foi um monte de gente que cedeu água para a Transnordestina em troca de ampliação de seus açudes, mas a construtora Odebrecht não cumpriu o prometido — diz Leite.
Perto dali, José Carlos Pereira, de 26 anos, amarga o desemprego. Ele trabalhou na construção da ferrovia. Depois de desligado, foi para São Paulo, e depois foi parar em Alagoas, cortando cana. Sem tradição nos canaviais, não conseguiu seguir o ritmo dos colegas, que chegavam a cortar 15 toneladas diárias de cana, e foi demitido.
Na área urbana, depois do boom, comerciantes amargam prejuízos
Não são só os homens da caatinga que reclamam dos efeitos da paralisação de obras como a transposição do Rio São Francisco e, agora, da Transnordestina. Na área urbana das cidades sertanejas, a reclamação é uma só: a queda no movimento da economia.
Em Custódia, em 2010, o mercado imobiliário teve um boom, o comércio floresceu e a indústria hoteleira foi ampliada. O movimento terminou por trazer de volta moradores que migraram em busca de oportunidade no Sul do país.
Entre 2010 e 2011, mais de 5.500 operários, engenheiros e operadores de máquinas, entre outros, circulavam pelas ruas do município de 34 mil habitantes. Surgiram novos loteamentos, os aluguéis ficaram dez vezes mais caros e a construção civil explodiu.
Hoje, no entanto, já são 300 as casas vazias na cidade. Quem vendia 200 terrenos por ano, viu o movimento reduzido à metade, como o empresário José Samuel Marinho, dono do loteamento São José.
Proprietário de 80 casas, Rolnei Pinto Barbalho também amarga prejuízo. Tem hoje 25 casas fechadas. Marinho é também dono do principal supermercado da cidade. Em 2010, ele contratou empregados, aumentou o número de caixas e chegou a vender 31 mil quilos de frango. Este ano, no entanto, no primeiro semestre, vendeu pouco mais de nove mil quilos. O comércio também tem sofrido: entre 2010 e 2013, o movimento caiu 40%, segundo o Clube de Diretores Lojistas.
Em Salgueiro, a 518 quilômetros de Recife, o empresário Francisco Ailton de Sá, à frente do Hotel Imperador, um dos mais tradicionais da cidade, comprou mais um hotel e ainda construiu uma pousada.
— Era 100% de acomodação e ainda rejeitava hóspede. A transposição sempre foi meio devagar, mas a Transnordestina nos trouxe muitos lucros — lembra. É uma pena toda essa gastança de dinheiro. Agora, a gente vê tudo parado.
A paralisação da Transnordestina preocupa o governo de Pernambuco, que tem a interiorização do desenvolvimento como uma das prioridades.
— A gente foi surpreendido. A ferrovia é uma obra estruturadora e o estado tem investido fortemente em função dela. Ainda não sabemos quem vai retomar (a obra), pois é um trabalho de grande envergadura — afirma Márcio Stefanini, secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco: — Estamos muito preocupados com o nível de emprego na região. O governo de Pernambuco pede que acelerem a construção.
Ministério diz que não há paralisação das obras
A paralisação das obras da Transnordestina em Pernambuco se deve ao rompimento neste semestre do contrato entre a Transnordestina Logística S.A (TLSA), braço da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), responsável pelo empreendimento, e a construtora Norberto Odebrecht, contratada para implantar a ferrovia. Em palestra recente em Recife, o Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, confirmou a quebra do contrato e informou que a previsão era que a TLSA contratasse uma nova empreiteira. Em nota enviada ao GLOBO, a TLSA confirmou que “está em processo de substituição da construtora para execução de trechos da ferrovia”. Apesar das confirmações, o Ministério dos Transportes assegurou em nota, na noite da última sexta-feira, que “não há paralisação de obras” e que nelas trabalham 3.767 homens.
Segundo o Ministério dos Transportes, o que há “são trechos novos que ainda não foram iniciados”. A nota diz ainda que a reestruturação do contrato com a TLSA foi concluída em fevereiro. E que, embora o termo aditivo ao contrato de concessão já tenha sido aprovado, “aguarda assinatura referente a acordo de acionistas e investimentos”. Conforme o ministério, o índice de execução das obras, dependendo do local, varia de 4% (Pecém-Missão Velha, no Ceará) a 100% (no trecho Salgueiro-Missão Velha), entre Pernambuco e Ceará.
Com orçamento inicial de R$ 4,5 bilhões, a Transnordestina foi lançada em 2006 pelo então presidente Lula, que pretendia inaugurá-la em 2010. A julgar pelas placas do seu canteiro administrativo, às margens da BR-116, em Salgueiro — a 518 quilômetros de Recife —, a obra não termina antes do fim do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff: “Licença de operação validade 22/02/2015”, dizem os cartazes no local.
No governo, já se fala que a construção deve se estender até 2016. A ser mantido o ritmo de implantação atual de 13,5 quilômetros por ano, ela demandará 128 anos para ser concluída. No sertão, a expectativa é que só acelere em 2014, ano eleitoral.
De acordo com sindicato, sete mil já foram demitidos
Custódia e Salgueiro (PE) No estado de Pernambuco, segundo o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem em Geral de Pernambuco (Sintepav-PE), já são sete mil os demitidos pela Transnordestina. Os números, no entanto, não foram confirmados pela TLSA e a Odebrecht. Em nota, a TLSA confirmou que “a obra seguirá normalmente e que a maioria dos empregados que já trabalham nos canteiros deverá ser aproveitada”.
A TLSA confirmou também a paralisação das atividades da empresa de dormentes, por conta do acúmulo de estoque. No entanto, garantiu que o canteiro industrial “voltará a operar em plena capacidade”. A fábrica foi inaugurada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010, como “a maior fábrica de dormentes do mundo”. Ao todo, a empresa demitiu 400 empregados.
Número de hóspedes cai
Mesmo as pessoas que estavam indiretamente ligadas às obras da Transnordestina amargam problemas por conta da paralisação. Maria do Socorro Pinto Silva, que chegou a viver em São Paulo entre 1978 e 1994, voltou com o marido para Custódia depois de juntar dinheiro.
As economias, conseguidas vendendo roupa de porta em porta e trabalhando na construção civil, foram investidas na rede hoteleira. Com a chegada da Transnordestina, o casal passou a ter que recusar hóspedes no Hotel San Marino. Decidiu, então, ampliar o empreendimento, que hoje conta com 100 quartos. Maria e o marido descobriram ainda outra maneira de ganhar dinheiro: passaram a fornecer quentinhas para os operários. Chegaram a vender 2.400 unidades por dia. Agora, com a paralisação da obra, a ocupação do hotel é 40% menor, e o número de empregados já foi reduzido em 50%. Maria, no entanto, acredita que Padre Cícero pode ajudá-los.
— Hoje, nossos hóspedes são os que transitam pela BR-232. Minha esperança agora são as romarias. Elas costumam reunir muita gente e aumentam no final do ano, quando todos querem ir para Juazeiro do Norte, no Ceará — diz a empresária Maria do Socorro.astasse o atraso nas obras de transposição do Rio Sã
A equipe do GLOBO viajou mais de 1.500 quilômetros pelo sertão sem observar um só operário em ação nos dois empreendimentos que se cruzam em diversas localidades, como ocorre no povoado de Malhadinha, no município de Custódia, a 335 quilômetros de Recife. Ali, um viaduto da Transnordestina passa por cima de um canal do Eixo Norte da transposição, cujas paredes, na falta de água que as conservem, já ostentam remendos nas rachaduras no concreto provocadas pelo sol.
Os canais não receberam uma só gota do Velho Chico. E o viaduto, com as cabeceiras desconectadas, é um esqueleto de concreto que liga o nada a lugar nenhum. Com cerca de 50 metros de extensão, ele não tem brita, dormentes nem trilhos.
Mais dez quilômetros de estrada barrenta no meio da caatinga, dessa vez no vilarejo de Cacimbinha, e as duas obras se cruzam novamente. É água que não chega e o trem que ninguém sabe quando vai passar: a ponte sobre o Rio Marrecas com escadas improvisadas e cabeceiras desconectadas virou antro de ladrões. Moradora do povoado, Maria Rita Virgínio Freire, de 60 anos, para o carro de mão em que leva milho para os bichos. E o faz para reclamar:
— Não tem nada terminado de nada. É só cutucada em todo canto. Essas duas obras só trouxeram desassossego. Aqui a vida acabou.
Antes recolhida à tranquilidade do seu sítio, ela chega a desafiar os ladrões que costumam acorrer ao local para roubar brita, ferro, blocos de concreto, cercas e material abandonado pela empreiteira que era encarregada da obra e que abandonou os seus canteiros. Ela afirma que às vezes acorda assustada, à noite, com o barulho dos ferros sendo jogados ponte abaixo, no leito seco do rio. De lá, são transportados em camionetes para o mercado negro.
— Tem uns que, para fingir que são empregados, vêm de roupa amarela (cor usada pelos operários que trabalharam na obra). Quando eu reclamo, eles dizem que podem roubar, que o material é do governo — conta.
Ela teme que as encostas abertas às margens da ferrovia desabem com as chuvas. Sem proteção que contenha a erosão, as marcas do fenômeno já são visíveis até para os leigos. E os desabamentos tanto podem ocorrer sobre os trilhos, quanto ao lado deles, onde há pedras imensas rolando.
Na última quinta-feira, o agricultor João Bosco Amorim, de 63 anos, residente no mesmo vilarejo, já tinha cavalgado mais de doze quilômetros em busca das cabras perdidas na caatinga.
— Perdi um “móio” de cabras. Umas cinquenta sumiram — afirma o agricultor, que teve sua propriedade dividida em três pedaços, dificultando o controle dos bichos no pasto.
Ele recebeu R$ 900 de indenização pela transposição e R$ 5 mil pelas terras perdidas para a ferrovia. Mas diz que o prejuízo foi muito maior, inclusive porque não pôde vender madeiras que caíram com o desmatamento da caatinga no sítio.
Acordos com moradores não cumpridos
Reclamações também tem o produtor Pedro Neumar Henrique de Souza, de 57 anos, um dos donos da Fazenda Samambainha, a 18 quilômetros do centro de Custódia. Ele foi procurado por um preposto da empreiteira, que lhe pediu para utilizar a água do açude de sua propriedade. Em troca, a empresa lhe cederia máquinas para aumentar a profundidade do reservatório.
Souza mostra documentos que comprovariam que, por seis meses, cem caminhões pipa diários de 20 mil litros cada foram utilizados para abastecer as obras. No entanto, quando a Transnordestina desandou, a obra prometida não foi realizada, e o açude secou, deixando 50 bovinos e 200 caprinos com sede. Agora, o fazendeiro briga na Justiça por indenização de R$ 6 mil por dia pela água que saiu de graça para a empreiteira, pelo acordo não cumprido (de ampliar o açude) e pelas 15 toneladas de peixe perdido.
Problema semelhante teve Luiz Carlos de Lira, que também responde pela Diretoria de Obras da Prefeitura de Custódia. Apesar de habituado à burocracia do serviço público, deixou o costume sertanejo de fazer acordos verbais falar mais forte. Permitiu a retirada de água do Rio Malhadinha, que corta sua propriedade, em troca de melhoria e ampliação do açude para resistir à seca. Foram 80 caminhões pipa de 20 mil litros por mais de mês. Quando viu o rio reduzido a um fio de água, impediu a retirada, e o contrato de boca acabou. Hoje, estuda forma de exigir os seus direitos na Justiça.
— Não foi só ele e eu não. Foi um monte de gente que cedeu água para a Transnordestina em troca de ampliação de seus açudes, mas a construtora Odebrecht não cumpriu o prometido — diz Leite.
Perto dali, José Carlos Pereira, de 26 anos, amarga o desemprego. Ele trabalhou na construção da ferrovia. Depois de desligado, foi para São Paulo, e depois foi parar em Alagoas, cortando cana. Sem tradição nos canaviais, não conseguiu seguir o ritmo dos colegas, que chegavam a cortar 15 toneladas diárias de cana, e foi demitido.
Na área urbana, depois do boom, comerciantes amargam prejuízos
Não são só os homens da caatinga que reclamam dos efeitos da paralisação de obras como a transposição do Rio São Francisco e, agora, da Transnordestina. Na área urbana das cidades sertanejas, a reclamação é uma só: a queda no movimento da economia.
Em Custódia, em 2010, o mercado imobiliário teve um boom, o comércio floresceu e a indústria hoteleira foi ampliada. O movimento terminou por trazer de volta moradores que migraram em busca de oportunidade no Sul do país.
Entre 2010 e 2011, mais de 5.500 operários, engenheiros e operadores de máquinas, entre outros, circulavam pelas ruas do município de 34 mil habitantes. Surgiram novos loteamentos, os aluguéis ficaram dez vezes mais caros e a construção civil explodiu.
Hoje, no entanto, já são 300 as casas vazias na cidade. Quem vendia 200 terrenos por ano, viu o movimento reduzido à metade, como o empresário José Samuel Marinho, dono do loteamento São José.
Proprietário de 80 casas, Rolnei Pinto Barbalho também amarga prejuízo. Tem hoje 25 casas fechadas. Marinho é também dono do principal supermercado da cidade. Em 2010, ele contratou empregados, aumentou o número de caixas e chegou a vender 31 mil quilos de frango. Este ano, no entanto, no primeiro semestre, vendeu pouco mais de nove mil quilos. O comércio também tem sofrido: entre 2010 e 2013, o movimento caiu 40%, segundo o Clube de Diretores Lojistas.
Em Salgueiro, a 518 quilômetros de Recife, o empresário Francisco Ailton de Sá, à frente do Hotel Imperador, um dos mais tradicionais da cidade, comprou mais um hotel e ainda construiu uma pousada.
— Era 100% de acomodação e ainda rejeitava hóspede. A transposição sempre foi meio devagar, mas a Transnordestina nos trouxe muitos lucros — lembra. É uma pena toda essa gastança de dinheiro. Agora, a gente vê tudo parado.
A paralisação da Transnordestina preocupa o governo de Pernambuco, que tem a interiorização do desenvolvimento como uma das prioridades.
— A gente foi surpreendido. A ferrovia é uma obra estruturadora e o estado tem investido fortemente em função dela. Ainda não sabemos quem vai retomar (a obra), pois é um trabalho de grande envergadura — afirma Márcio Stefanini, secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco: — Estamos muito preocupados com o nível de emprego na região. O governo de Pernambuco pede que acelerem a construção.
Ministério diz que não há paralisação das obras
A paralisação das obras da Transnordestina em Pernambuco se deve ao rompimento neste semestre do contrato entre a Transnordestina Logística S.A (TLSA), braço da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), responsável pelo empreendimento, e a construtora Norberto Odebrecht, contratada para implantar a ferrovia. Em palestra recente em Recife, o Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, confirmou a quebra do contrato e informou que a previsão era que a TLSA contratasse uma nova empreiteira. Em nota enviada ao GLOBO, a TLSA confirmou que “está em processo de substituição da construtora para execução de trechos da ferrovia”. Apesar das confirmações, o Ministério dos Transportes assegurou em nota, na noite da última sexta-feira, que “não há paralisação de obras” e que nelas trabalham 3.767 homens.
Segundo o Ministério dos Transportes, o que há “são trechos novos que ainda não foram iniciados”. A nota diz ainda que a reestruturação do contrato com a TLSA foi concluída em fevereiro. E que, embora o termo aditivo ao contrato de concessão já tenha sido aprovado, “aguarda assinatura referente a acordo de acionistas e investimentos”. Conforme o ministério, o índice de execução das obras, dependendo do local, varia de 4% (Pecém-Missão Velha, no Ceará) a 100% (no trecho Salgueiro-Missão Velha), entre Pernambuco e Ceará.
Com orçamento inicial de R$ 4,5 bilhões, a Transnordestina foi lançada em 2006 pelo então presidente Lula, que pretendia inaugurá-la em 2010. A julgar pelas placas do seu canteiro administrativo, às margens da BR-116, em Salgueiro — a 518 quilômetros de Recife —, a obra não termina antes do fim do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff: “Licença de operação validade 22/02/2015”, dizem os cartazes no local.
No governo, já se fala que a construção deve se estender até 2016. A ser mantido o ritmo de implantação atual de 13,5 quilômetros por ano, ela demandará 128 anos para ser concluída. No sertão, a expectativa é que só acelere em 2014, ano eleitoral.
De acordo com sindicato, sete mil já foram demitidos
Custódia e Salgueiro (PE) No estado de Pernambuco, segundo o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem em Geral de Pernambuco (Sintepav-PE), já são sete mil os demitidos pela Transnordestina. Os números, no entanto, não foram confirmados pela TLSA e a Odebrecht. Em nota, a TLSA confirmou que “a obra seguirá normalmente e que a maioria dos empregados que já trabalham nos canteiros deverá ser aproveitada”.
A TLSA confirmou também a paralisação das atividades da empresa de dormentes, por conta do acúmulo de estoque. No entanto, garantiu que o canteiro industrial “voltará a operar em plena capacidade”. A fábrica foi inaugurada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010, como “a maior fábrica de dormentes do mundo”. Ao todo, a empresa demitiu 400 empregados.
Número de hóspedes cai
Mesmo as pessoas que estavam indiretamente ligadas às obras da Transnordestina amargam problemas por conta da paralisação. Maria do Socorro Pinto Silva, que chegou a viver em São Paulo entre 1978 e 1994, voltou com o marido para Custódia depois de juntar dinheiro.
As economias, conseguidas vendendo roupa de porta em porta e trabalhando na construção civil, foram investidas na rede hoteleira. Com a chegada da Transnordestina, o casal passou a ter que recusar hóspedes no Hotel San Marino. Decidiu, então, ampliar o empreendimento, que hoje conta com 100 quartos. Maria e o marido descobriram ainda outra maneira de ganhar dinheiro: passaram a fornecer quentinhas para os operários. Chegaram a vender 2.400 unidades por dia. Agora, com a paralisação da obra, a ocupação do hotel é 40% menor, e o número de empregados já foi reduzido em 50%. Maria, no entanto, acredita que Padre Cícero pode ajudá-los.
— Hoje, nossos hóspedes são os que transitam pela BR-232. Minha esperança agora são as romarias. Elas costumam reunir muita gente e aumentam no final do ano, quando todos querem ir para Juazeiro do Norte, no Ceará — diz a empresária Maria do Socorro.astasse o atraso nas obras de transposição do Rio Sã
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