4 distritos querem se separar de SP
Parelheiros, Perus, São Mateus e Santo Amaro
entraram com pedidos de emancipação na Assembléia Legislativa
Rodrigo Brancatelli
Mi menor, Lá, Si e Mi menor de novo. Muito simples? Não seria melhor algo mais pomposo, como nos célebres hinos de futebol criados por Lamartine Babo? Ou uma marcha militar, com percussão bem ritmada? Desde a década de 80, as reuniões do Conselho de Emancipação de São Mateus nunca chegaram a um consenso sobre qual seria o hino perfeito para representar a região. Mas o desenho da bandeira, o lema e a vontade de transformar o distrito da zona leste de São Paulo numa cidade inteiramente separada da capital não só foram estabelecidos como também chamaram a atenção de muitos moradores com o passar dos anos.
“Cada vez mais recebo o apoio das pessoas para separar São Mateus”, diz Benedito Carlos Ângelo, presidente do conselho. “É aquela velha história: como os governantes não se mexem, precisamos tomar alguma atitude.” Ângelo não está sozinho nessa luta. Além de São Mateus, os distritos de Perus, na zona norte, Parelheiros e Santo Amaro, ambos na zona sul, também mantêm esse espírito separatista e entraram com pedidos de emancipação na Assembléia Legislativa de São Paulo. Se vão ser aprovados, já é uma história completamente diferente.
O Congresso Nacional ainda precisa votar e aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 13, que devolve aos Estados a competência para legislar sobre a criação de municípios. Até 1996, os Estados podiam aprovar livremente as emancipações, mas a prerrogativa foi abolida por uma emenda constitucional que buscou frear o “boom” de novas cidades. Em São Paulo, os últimos bairros que se separaram foram Guarulhos, em 1880, Juqueri - que mais tarde deu origem a Mairiporã, Franco da Rocha, Caieiras e Francisco Morato -, em 1890, e Osasco, já em 1962.
A proposta deve ser votada no segundo semestre. São Mateus, por exemplo, além do hino, já está traçando os planos para tornar viável a idéia da separação. “Temos capacidade de virar uma cidade como Guarulhos”, diz Benedito Carlos Ângelo, com discurso já de prefeito. “A arrecadação bateria os R$ 100 milhões. Teríamos bombeiros voluntários, policiais voluntários, guarda mirim voluntária, professores voluntários... O povo iria se unir para transformar a realidade do distrito.”
Santo Amaro
Os moradores mais antigos de Santo Amaro, na zona sul, não fazem muita questão de se proclamarem paulistanos. “Somos, acima de tudo, santamarenses”, diz a historiadora Maria Helena Berardi, de 67 anos, eterna apaixonada pela idéia de devolver o título de município ao distrito. Com origem ligada a uma aldeia indígena às margens do Rio Jurubatuba, a região foi anexada a São Paulo em 22 de fevereiro de 1935. “O brasão de Santo Amaro ainda significa muita coisa para a gente. Lá está escrito: ‘pertenço à mais antiga gente paulista’.”
Ser santamarense é quase como torcer por um time de futebol. Não é difícil encontrar por ali quem sabe de cor a história do local e votaria “sim” em um possível plebiscito para a sua separação. “Santo Amaro era o único município de São Paulo que produzia batatas”, explica o comerciante Hamilton Nery, que já fez parte de dois conselhos de emancipação do distrito. Em 1985, Maria Helena, Nery e os outros santamarenses foram às urnas para tentar a separação. Dos 60.383 moradores que votaram, no entanto, 56.232 disseram não à proposta.
Perus
Dizem que o nome do distrito de Perus vem da expressão tupi-guarani “pi-ru”, algo que poderia ser traduzido como “pôr-se apertado”. Não é por menos que o principal problema da região é o aumento populacional e a ocupação irregular - atualmente são quase 50 favelas, com cerca de 40 mil habitantes. Apertado também é o orçamento. Perus tem uma das piores rendas de São Paulo, com média de 1,45 salário mínimo por pessoa. “O distrito já teve seus tempos áureos, com muita riqueza”, conta o geólogo Pedro Barral, que há três anos entrou com pedido de emancipação. Para recuperar Perus, os moradores têm a solução: investir mais no Parque Anhangüera e reformar a Estrada de Ferro Perus-Pirapora para transformá-la num ponto turístico. Lá, quem sabe, será hasteada a bandeira do novo município. “Temos um desenho desde a década de 70, simboliza a união dos moradores”, afirma o aposentado Miguel Rodrigues, responsável por guardar a bandeira da Sociedade Amigos de Perus. Ele sempre foi a favor da separação: “Um dia ela vai sair do meu armário.”
Parelheiros
Parelheiros é um lugar tão abandonado e acostumado a uma rotina de violência que às vezes nem as páginas policiais dos jornais lhe dão bola. Fica numa área de 350 quilômetros quadrados que mistura favelas, chácaras, reservas de Mata Atlântica e até aldeias indígenas. A dificuldade de integrar e administrar todas essas facetas diferentes do distrito deverá aumentar ainda mais com a passagem do Rodoanel, previsto para cortar a região até 2011. “As pessoas têm vergonha de falar que vivem em Parelheiros”, diz o bancário Carlos Pena, presidente da associação que planeja transformar o bairro em cidade. A idéia do grupo é aproveitar o potencial turístico da Área de Preservação Ambiental Capivari-Monos, a 55 quilômetros do centro, com seus 25 mil hectares de Mata Atlântica. “A área é rica em biodiversidade e tem espécies raras de animais”, diz a artista plástica Íris Vieira do Rosário, uma das entusiastas do projeto de emancipação. “O verde de Parelheiros ainda vai salvar São Paulo.”
São Mateus
Se o hino ainda não vingou, a bandeira pelo menos ficou bonitona. São oito listras azuis, oito listras brancas e um triângulo com uma corrente verde e dourada em volta. O problema é só entender o significado. “O branco simboliza a paz, o azul homenageia o ano da mulher e os lados iguais do triângulo refletem a união entre instituições e população”, explica (ou melhor, tenta) Benedito Carlos Ângelo, presidente do Conselho de Emancipação. Calma, tem mais. “O verde é da esperança, o dourado é a riqueza. E a corrente... Bem, a corrente é um pouquinho complicado de explicar.” Desde o início dos anos 80, o grupo sonha com a separação do bairro. Essencialmente agrícola até a década de 70, São Mateus tem cerca de 154 mil moradores e toda sorte de problemas estruturais. “Aqui é comum ver lixo espalhado, ruas de terra, violência...”, diz Elisabete Cardoso, coordenadora do fórum de desenvolvimento local. “Estamos abandonados pelo poder público. As grandes lojas até evitam fazer entregas aqui.”
Rodrigo Brancatelli
Mi menor, Lá, Si e Mi menor de novo. Muito simples? Não seria melhor algo mais pomposo, como nos célebres hinos de futebol criados por Lamartine Babo? Ou uma marcha militar, com percussão bem ritmada? Desde a década de 80, as reuniões do Conselho de Emancipação de São Mateus nunca chegaram a um consenso sobre qual seria o hino perfeito para representar a região. Mas o desenho da bandeira, o lema e a vontade de transformar o distrito da zona leste de São Paulo numa cidade inteiramente separada da capital não só foram estabelecidos como também chamaram a atenção de muitos moradores com o passar dos anos.
“Cada vez mais recebo o apoio das pessoas para separar São Mateus”, diz Benedito Carlos Ângelo, presidente do conselho. “É aquela velha história: como os governantes não se mexem, precisamos tomar alguma atitude.” Ângelo não está sozinho nessa luta. Além de São Mateus, os distritos de Perus, na zona norte, Parelheiros e Santo Amaro, ambos na zona sul, também mantêm esse espírito separatista e entraram com pedidos de emancipação na Assembléia Legislativa de São Paulo. Se vão ser aprovados, já é uma história completamente diferente.
O Congresso Nacional ainda precisa votar e aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 13, que devolve aos Estados a competência para legislar sobre a criação de municípios. Até 1996, os Estados podiam aprovar livremente as emancipações, mas a prerrogativa foi abolida por uma emenda constitucional que buscou frear o “boom” de novas cidades. Em São Paulo, os últimos bairros que se separaram foram Guarulhos, em 1880, Juqueri - que mais tarde deu origem a Mairiporã, Franco da Rocha, Caieiras e Francisco Morato -, em 1890, e Osasco, já em 1962.
A proposta deve ser votada no segundo semestre. São Mateus, por exemplo, além do hino, já está traçando os planos para tornar viável a idéia da separação. “Temos capacidade de virar uma cidade como Guarulhos”, diz Benedito Carlos Ângelo, com discurso já de prefeito. “A arrecadação bateria os R$ 100 milhões. Teríamos bombeiros voluntários, policiais voluntários, guarda mirim voluntária, professores voluntários... O povo iria se unir para transformar a realidade do distrito.”
Santo Amaro
Os moradores mais antigos de Santo Amaro, na zona sul, não fazem muita questão de se proclamarem paulistanos. “Somos, acima de tudo, santamarenses”, diz a historiadora Maria Helena Berardi, de 67 anos, eterna apaixonada pela idéia de devolver o título de município ao distrito. Com origem ligada a uma aldeia indígena às margens do Rio Jurubatuba, a região foi anexada a São Paulo em 22 de fevereiro de 1935. “O brasão de Santo Amaro ainda significa muita coisa para a gente. Lá está escrito: ‘pertenço à mais antiga gente paulista’.”
Ser santamarense é quase como torcer por um time de futebol. Não é difícil encontrar por ali quem sabe de cor a história do local e votaria “sim” em um possível plebiscito para a sua separação. “Santo Amaro era o único município de São Paulo que produzia batatas”, explica o comerciante Hamilton Nery, que já fez parte de dois conselhos de emancipação do distrito. Em 1985, Maria Helena, Nery e os outros santamarenses foram às urnas para tentar a separação. Dos 60.383 moradores que votaram, no entanto, 56.232 disseram não à proposta.
Perus
Dizem que o nome do distrito de Perus vem da expressão tupi-guarani “pi-ru”, algo que poderia ser traduzido como “pôr-se apertado”. Não é por menos que o principal problema da região é o aumento populacional e a ocupação irregular - atualmente são quase 50 favelas, com cerca de 40 mil habitantes. Apertado também é o orçamento. Perus tem uma das piores rendas de São Paulo, com média de 1,45 salário mínimo por pessoa. “O distrito já teve seus tempos áureos, com muita riqueza”, conta o geólogo Pedro Barral, que há três anos entrou com pedido de emancipação. Para recuperar Perus, os moradores têm a solução: investir mais no Parque Anhangüera e reformar a Estrada de Ferro Perus-Pirapora para transformá-la num ponto turístico. Lá, quem sabe, será hasteada a bandeira do novo município. “Temos um desenho desde a década de 70, simboliza a união dos moradores”, afirma o aposentado Miguel Rodrigues, responsável por guardar a bandeira da Sociedade Amigos de Perus. Ele sempre foi a favor da separação: “Um dia ela vai sair do meu armário.”
Parelheiros
Parelheiros é um lugar tão abandonado e acostumado a uma rotina de violência que às vezes nem as páginas policiais dos jornais lhe dão bola. Fica numa área de 350 quilômetros quadrados que mistura favelas, chácaras, reservas de Mata Atlântica e até aldeias indígenas. A dificuldade de integrar e administrar todas essas facetas diferentes do distrito deverá aumentar ainda mais com a passagem do Rodoanel, previsto para cortar a região até 2011. “As pessoas têm vergonha de falar que vivem em Parelheiros”, diz o bancário Carlos Pena, presidente da associação que planeja transformar o bairro em cidade. A idéia do grupo é aproveitar o potencial turístico da Área de Preservação Ambiental Capivari-Monos, a 55 quilômetros do centro, com seus 25 mil hectares de Mata Atlântica. “A área é rica em biodiversidade e tem espécies raras de animais”, diz a artista plástica Íris Vieira do Rosário, uma das entusiastas do projeto de emancipação. “O verde de Parelheiros ainda vai salvar São Paulo.”
São Mateus
Se o hino ainda não vingou, a bandeira pelo menos ficou bonitona. São oito listras azuis, oito listras brancas e um triângulo com uma corrente verde e dourada em volta. O problema é só entender o significado. “O branco simboliza a paz, o azul homenageia o ano da mulher e os lados iguais do triângulo refletem a união entre instituições e população”, explica (ou melhor, tenta) Benedito Carlos Ângelo, presidente do Conselho de Emancipação. Calma, tem mais. “O verde é da esperança, o dourado é a riqueza. E a corrente... Bem, a corrente é um pouquinho complicado de explicar.” Desde o início dos anos 80, o grupo sonha com a separação do bairro. Essencialmente agrícola até a década de 70, São Mateus tem cerca de 154 mil moradores e toda sorte de problemas estruturais. “Aqui é comum ver lixo espalhado, ruas de terra, violência...”, diz Elisabete Cardoso, coordenadora do fórum de desenvolvimento local. “Estamos abandonados pelo poder público. As grandes lojas até evitam fazer entregas aqui.”
Entendo que SANTO AMARO poderia postular emancipação se não pretendesse todas as áreas 6 e 7 de São Paulo, e que faziam parte do antigo município, ou seja, não postulasse, por exemplo, que Campo Belo e parte do Itaim Bibi estivessem no novo município. MUNICÍPIO DE SANTO AMARO: Santo Amaro + Campo Grande + Campo Limpo + Capão Redondo + Vila Andrade + Jardim Ângela + Jardim São Luís + Socorro + Cidade Dutra + Grajaú + Parelheiros + Marsilac + Cidade Ademar + Pedreira. Além disso, nesse somatório, poderiam ser retirados PARELHEIROS e MARSILAC, que dariam origem a outro município. Sérgio Rodrigues
ResponderExcluirEu nasci em uma maternidade de Santo Amaro, porém meus pais sempre moram No Bairro do Embura, que fica entre Parelheiros e Marsilac. Sou descendente dos imigrantes de Alemães, Italianos, portugueses e Israelitas. Eu na minha opinião, acho que seria melhor Parelheiros virar município,pois seria melhor pra seu desenvolvimento . O município de São Paulo está muito grande pra ser admistrado por um prefeito, existem muitos problemas e com isso, Parelheiros fica quase no esquecimento, sendo uma região com muitas áreas verdes de Mata Atlantantica,com reservas e muitas nascentes Áreas de mananciais que devem ser preservadas com fiscalização mais rigorosas. Pois grande parte da Zona sul de São Paulo, é abastecido com água desta região .
ResponderExcluirPARELHEIROS UM LUGAR MARAVILHOSO MERECE VIRAR E VAI SER UMA CIDADE MARAVILHOSA. EU APOIO ESSA CAUSA PARELHEIROS MERECE.
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