Em primeiro lugar, por trás da primeira conclusão está a ngênua de que o dicionário seja o repositório de todas as palavras existentes de nossa língua, uma espécie de cartório de registro de nascimentos onde os falantes podem conferir a existência ou não de um vocábulo. Nada mais falso; um dicionário é apenas uma seleção dos vocábulos que o seu autor considera mais importantes neste momento. Por exemplo, para que o Aurélio e o Houaiss pudessem ser editados como um volume único, os autores tiveram de fazer uma pesada seleção dos vocábulos que deveriam entrar — uma verdadeira lista de Schindler, onde nem sempre foram incluídas as palavras que mereciam. O Aurélio traz as palavras que Aurélio Buarque de Holanda escolheu; o Houaiss traz as palavras que Antônio Houaiss escolheu — e pronto!
Quem vai ao Houaiss encontra várias palavras que não aparecem no Aurélio: agronegócio, apagão, auditar, autolimpante, biopirataria, carteirada, cartelização, cartolagem, conspiratório, emancipacionista, fitossanitário, hidroginástica,mexível, meritocracia, parquímetro ou soropositivo. Essa diferença pode nos dizer alguma coisa sobre o tamanho e a cobertura dos dois dicionários, mas nada sobre as próprias palavras em si — assim como o fato de não encontrarmos bivolt, bloqueto, cadeirante, degravação, drogadição, drogadito, intensivista, fumódromo, mecatrônica ou rinsagem em nenhum dos dois não nos autoriza a concluir que esses vocábulos, vivíssimos em nosso idioma, não existam...
Nenhum comentário:
Postar um comentário