Sudão do Sul ou Sudão Meridional (em árabe: جنوب السودان, transl. Janūb as-Sūdān), oficialmente Governo Autônomo do Sudão Meridional (em árabe: اقلیم جنوب السودان) é uma região autônoma do Sudão, composta por dez estados deste país. O governo sudanês concordou em dar autonomia à região através do tratado de Naivasha[1], assinado em 9 de janeiro de 2005 em Nairóbi, Quênia, com o Exército Popular de Libertação do Sudão (SPLA/M), na tentativa de colocar um fim na segunda guerra civil sudanesa.
Além da divisa com o Sudão ao norte, o Sudão do Sul faz fronteira a leste com a Etiópia, ao sul com o Quênia, Uganda e República Democrática do Congo e a oeste com a República Centro-Africana.
O Sudão do Sul, também chamado de Novo Sudão, possui quase todos os seus órgãos administrativos em Juba, a capital, que é também a maior cidade, considerando a população estimada.
Seis anos após o acordo de paz que pôs fim à guerra civil entre o Exército do Sudão e rebeldes sulistas do SPLA (Exército Popular de Libertação do Sudão), sudaneses de raça negra e religião cristã ou animista contam os dias para a independência. Para isso ocorrer, no entanto, o quorum precisa ser de 60%, o que não é simples para uma região do tamanho de Minas Gerais e praticamente sem estradas. O referendo provavelmente levará à criação de uma das nações mais pobres do mundo onde o analfabetismo chega a 75% e 50% da população vive com menos de um dólar por dia.
A região conta com enormes reservas de petróleo que até 2010 vêm sendo repartidas com o governo central. Teme-se que que o governo central, de maioria árabe, não respeite o resultado. O ditador Omar al-Bashir declarou que o sul não está pronto para se tornar um estado. Caso a independência ocorra, haverá um período de seis meses de adaptação até que nasça para valer o 193º país do mundo.
No Sudão do Sul estão 75% das reservas de petróleo do país, localizadas sobretudo na região de Abyei. Porém, é no norte que se encontram os oleodutos e os portos.
A Constituição Interina do Sudão do Sul foi assinada em 5 de dezembro de 2005, e previu para 2011 a realização de um referendo quando o povo da região decidiria pela manutenção da autonomia regional estabelecida no tratado de Naivasha, da constituição interina do Sudão do Sul e da constituição nacional interina da República do Sudão de 2005, ou pela independência. O referendo foi realizado a partir do dia 7 de janeiro de 2011, e três dias antes do fim do prazo estabelecido para os sudaneses votarem a participação dos eleitores era superior a 60%, anunciou Souad Ibrahim, porta-voz da Comissão Eleitoral. Este era a percentagem mínima exigida para que o referendo de independência do Sudão do Sul fosse validado.
Juba, a Capital
Os resultados foram amplamente favoráveis à independência, com 98,81% dos votos a conduzir o país à independência.
Divisão sem precedentes
O período de independência das colônias africanas começou há cerca de 50 anos com uma regra importante. As fronteiras seriam indivisíveis. Ao longo de décadas, países surgiram, mas sempre respeitando o princípio conhecido no jargão da diplomacia como uti possidetis (o que você possui).
Do ponto de vista estratégico, fazia sentido que as linhas políticas traçadas pelas potências européias no final do século XIX fossem a base para os novos Estados, por mais arbitrária que sua criação tivesse sido.
Uma espécie de acordo de cavalheiros proibiu subdivisões. Evitou-se, assim, que cada uma das centenas de grupos étnicos agrupados em alguns poucos países pelos colonizadores criasse seu Estado, uma receita para o caos.
Sempre que se buscou quebrar essa regra, houve crises. A tentativa do sudeste da Nigéria de se separar em 1967 gerou a Guerra de Biafra, que deixou 1 milhão de mortos.
Não há precedente africano, assim, para a secessão do sul do Sudão. O caso mais próximo seria o da Eritréia, que se separou da Etiópia em 1993. Contudo, a região separatista havia sido colonizada de forma separada pela Itália antes de ser englobada pelos etíopes em 1951.
Quanto ao Sudão, trata-se da divisão de uma mesma ex-colônia britânica, gerando um divórcio que será sentido por muito tempo em lugares como Somália, Angola e Marrocos, para ficar apenas em poucos países africanos com fortes movimentos secessionistas.
Divisão:
Gharb Bahr al-Ghazal (Bahr al Ghazal Ocidental) 93 900 km² 333 431 hab. Waw
Schamal Bahr al-Ghazal (Bahr al-Ghazal do Norte )33 558 km² 720 898 hab. Uwail
Al-Wahda (Unidade) 35 956 km² 585 801 hab. Bentiu
A'li an-Nil (Alto Nilo) 77 773 km² 964 353 hab. Malakal
Warab (Warab) 31 027 km² 972 928 hab. Warab
Junqali (Juncáli) 122 479 km² 1 358 602 hab. Bur
Al-Buhairat (Lagos) 40 235 km² 695 730 hab. Rumbek
Gharb al-Istiwa'iyya (Equatoria Ocidental) 79 319 km² 619 029 hab. Yambio
Al-Istiwāʾiyya al-Wusṭā (Equatoria Central) 22 956 km² 1 103 592 hab. Juba
Scharq al-Istiwa'iyya (Equatoria Oriental) 82 542 km² 906 126 hab. Kapoita
totais 619 745 km² 8 260 490 hab.
Demografia
O censo realizado no Sudão em 2008 apurou 8 260 490 habitantes no Sudão do Sul, 21,1% do total do Sudão. Este resultado é rejeitado pelos legisladores do Sudão do Sul.[5][6] O censo apurou ainda que 4 287 300 habitantes são homens (51,9%) e 3 973 190 são mulheres (48,1%). Essa população se distribui entre mais de 50 diferentes grupos étnicos.
Crise humanitária
O acordo de paz de Naivasha pôs fim à mais longa guerra civil da história do continente africano - a Segunda Guerra Civil Sudanesa (1983-1995), durante a qual dois milhões de pessoas morreram e quatro milhões foram deslocadas. Mas, seis anos depois, o clima de medo e insegurança permanece, em razão de conflitos étnicos e da ação de milícias. Só em 2010, 900 pessoas morreram e 215 000 foram deslocadas. Como se não bastasse, o Sudão do Sul enfrenta a maior epidemia de leishmaniose em oito anos, 75% da população não tem acesso a serviços básicos de saúde e há enormes dificuldades para se obter água e alimentos.
Infraestrutura
Nesta região, onde 92% das mulheres não sabem ler nem escrever, também não há eletricidade.O fornecimento de água é administrado por empresas privadas, por meio de caminhões tanque, que percorrem a cidade enchendo reservatórios particulares.Sem dúvida, mais da metade da população não tem acesso à água potável.A mobilidade é outra das carências do sul do Sudão. Fora de Juba --que conta com meia dúzia de ruas pavimentadas-- não há mais que estradas de terra, o que dificulta o trabalho das ONGs que atendem os povoados.A aproximação do referendo e o sonho de um país próprio criaram um novo problema. Nos últimos meses começaram a retornar muitos dos refugiados que deixaram o país durante a guerra --muitos outros seguirão chegando depois de uma eventual independência.O aumento da população pode acabar sobrepujando a já frágil situação da região, que terá que se construir a partir do zero.A única fonte de receita é o petróleo, e por isso teme-se que o norte não respeite o resultado, caso a opção seja mesmo pela independência.
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