Páginas

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

SANTA CRUZ DA GRACIOSA (ILHA GRACIOSA - AÇORES)

Santa Cruz da Graciosa é um concelho Açoriano sito na Ilha Graciosa, no Grupo Central do arquipélago. Fundado em 1486, tem 60,66 km² de área e 4 391 habitantes (2011).
Bandeira de Santa Cruz da Graciosa

Subdividido em 4 freguesias, o território do concelho ocupa a totalidade da ilha Graciosa e seus ilhéus, sendo assim rodeado pelo Oceano Atlântico. A sede do concelho é a Vila de Santa Cruz da Graciosa, uma localidade com cerca de 967  habitantes situado na costa nordeste da ilha.

Localização de Santa Cruz da Graciosa
O concelho de Santa Cruz da Graciosa ocupa todo o território da ilha Graciosa e seus ilhéus (Ilhéu da Praia, ilhéu de Baixo, ilhéu da Baleia e ilhéu da Gaivota e outros ilhéus menores), perfazendo um total de 60,66 km² de área.
A ilha tem uma forma grosseiramente oval, com 12,5 km de comprimento e 8,5 km de largura máxima. É a menos montanhosa das ilhas açorianas, atingindo 405 m de altitude máxima no bordo leste da Caldeira. Esta baixa elevação confere à ilha um clima temperado oceânico, caracterizado pela menor pluviosidade do arquipélago.
Vista do Centro da ilha
O relevo do concelho é em geral aplainado, marcado por numerosos cones de escórias que lhe dão um carácter marcadamente vulcânico, com um relevo mais acentuado na parte meridional, podendo ser dividida quatro unidades geomorfológicas:
  • O Maciço da Caldeira, no extremo sueste da ilha, constituído por um vulcão bem conservado, com uma caldeira central bem definida;
  • Maciço da Caldeira, visto da vila Fajã
  • A Serra das Fontes, ao longo da costa nordeste, muito escarpada e muito alterada pela tectónica local;
  • Serra das Fontes
  • O Complexo da Serra Dormida e da Serra Branca, ocupando o terço centro-meridional da ilha, também muito desmantelado e alterado pela tectónica local;
  • Serra Dormida
  • A Plataforma de Santa Cruz, ocupando a metade noroeste da ilha, caracterizado por um relevo adoçado, com altitude máxima em torno dos 50 m e pontuado por numerosos cones de escórias.

Para efeitos administrativos, o concelho encontra-se dividido nas seguintes freguesias:
  • Guadalupe, criada em 1644, uma freguesia de bons solos agrícolas sita no centro e noroeste da ilha, durante alguns séculos a localidade mais populosa da ilha; 20,61 km² e 1.096 habitantes.
  • Guadalupe, vista parcial
    Guadalupe
  • Luz, também conhecida por Sul, uma freguesia criada em 1601, no sueste da ilha, incluindo o lugar do Carapacho e as suas Termas; 11,70 km² e 683 habitantes.
  • Edifício das Termas do Carapacho
    Luz
  • São Mateus, também conhecida por Praia, uma localidade portuária que inclui a vila da Praia, sede entre 1546 e 1867 do concelho da Praia da Graciosa; 12,82 km² e 836 habitantes.
  • Vila da Praia da Graciosa, vista parcial, o ilhéu da Praia como Pano de Fundo
    São Mateus
  • Santa Cruz da Graciosa, a sede do concelho e hoje a mais populosa povoação da ilha.15,52 km² e 1.776 habitantes.
Santa Cruz da Graciosa

Após o estabelecimento do primeiro núcleo populacional no Carapacho, zona de costa baixa e abrigada no extremo sudoeste da ilha, face à pouca fertilidade dos solos na zona e à sua vulnerabilidade em relação ao mar, os primeiros povoadores buscaram o interior da ilha, explorando os seus solos férteis e aplainados.
Em poucos anos os principais núcleos populacionais estavam estabelecidos na costa nordeste da ilha, aproveitando as facilidades de desembarque que Praia da Graciosa e as calhetas da Barra e de Santa Cruz ofereciam e a relativa abundância de água nas lagunas ali existentes, além dos poços de maré que podiam ser escavados naqueles locais. Nasciam assim os povoados que viriam a ser as atuais vilas de Santa Cruz da Graciosa e Praia.
Vista de Carrapacho
Embora Vasco Gil Sodré tenha diligenciado no sentido de obter o cargo de capitão do donatário na ilha, e de ter mesmo construído uma alfândega, diligências em que foi sucedido por seu cunhado Duarte Barreto do Couto, apenas logrou, e mesmo isso não é seguro, governar a parte sul da ilha, estruturada em torno do que viria a ser a vila da Praia.
A capitania da parte norte da ilha, sita em terras bem mais férteis e amplas, foi entregue a Pedro Correia da Cunha, natural da ilha do Porto Santo e co-cunhado de Cristóvão Colombo que, a partir de 1485, logrou obter ao cargo de capitão do donatário em toda a ilha, unificando a administração. Fixando-se com a família em Santa Cruz, tal levou a que este povoado suplantasse a Praia como sede do poder administrativo na ilha. Logo no ano seguinte, Santa Cruz foi elevada a vila e sede de concelho, abrangendo todo o território da ilha e, com ele, as duas paróquias então existentes: Santa Cruz e São Mateus da Praia.
Ermida N.Sra. de Lourdes
Esta fase em que o concelho de Santa Cruz da Graciosa abrangia toda a ilha terminou quando a cabeça da outra primitiva capitania, o lugar de São Mateus da Praia, foi também elevado a vila por foral concedido por Carta Régia do rei D. João III, datado de 1 de Abril de 1546. Ficou assim a ilha dividida em dois concelhos: a sul o eixo Praia e Luz (tornada freguesia autônoma em 1601); a norte o eixo Santa Cruz e Guadalupe (freguesia autônoma desde 1644).
Vila de Praia
A estrutura administrativa bicéfala da ilha sobreviveu até ao século XIX, quando por força da reestruturação administrativa que se seguiu à aprovação do segundo código administrativo do liberalismo, o concelho da Praia foi extinto em 1855, sendo o seu território integrado no concelho de Santa Cruz da Graciosa. Embora o decreto de extinção tenha apenas sido executado em 1867, com o fim do concelho, a Praia perdeu a categoria de vila, estatuto que só recuperaria em 2003, por força do Decreto Legislativo Regional n.º 29/2003/A, de 24 de Junho, aprovado pelo parlamento açoriano.
Pode-se assim dividir a história do concelho de Santa Cruz nas seguintes fases:
  • 1450-1486 — Fase de povoamento inicial, sem estruturas municipais definidas, com o poder apenas nas mãos dos capitães do donatário;
  • 1486-1546 — O concelho de Santa Cruz abrangia toda a ilha, coincidindo em território e sede com a capitania.
  • 1546-1867 — O concelho de Santa Cruz fica restrito ao norte da ilha, abrangendo apenas as freguesias de Santa Cruz e Guadalupe. O sul da ilha constituía o concelho da Praia da Graciosa.
  • 1867– .... — O concelho de Santa Cruz absorve o território do extinto concelho da Praia da Graciosa, passando a abranger toda a ilha.
Em 1791 Santa Cruz foi visitada pelo escritor francês François-René de Chateaubriand, que ali aportou aquando da sua passagem em direção à América do Norte e esteve hospedado no convento franciscano de Santa Cruz, e que depois descreveu a ilha com mestria na sua obra.
Outro visitante célebre foi Almeida Garrett, que esteve em Santa Cruz em 1814, quando com apenas 15 anos visitou um seu tio que era juiz de fora em Santa Cruz. Reza a tradição que terá pregado um sermão na ilha, em óbvia contravenção da lei, e que ali terá escrito versos já reveladores do seu talento de poeta.
Também em 1879 a ilha foi visitada pelo príncipe Alberto I do Mônaco, que no decurso dos seus trabalhos de hidrografia e estudo da vida marinha, aportou à Graciosa no seu iate Hirondelle. Durante a sua permanência na ilha, desceu à Furna do Enxofre, no interior da Caldeira, tendo sido uma das primeiras vozes que se levantaram na defesa da criação de um acesso adequado que permitisse potenciar aquele local como atração turística.
Igreja Santa Quitéria, Fonte do Mato
Ao longo da sua história a ilha foi por diversas vezes assolada por secas avassaladores, que provocaram grande sofrimento, incluindo, segundo alguns historiadores a morte de muitos habitantes. Já no século XIX, e por iniciativa de José Silvestre Ribeiro, então administrador geral do distrito de Angra do Heroísmo, procedeu-se ao envio por navio de água a partir da Terceira para combater a sede que ali grassava. De facto, no Verão de 1844 ocorreu uma seca que para além de afetar gravemente as produções agrícolas pôs em risco a sobrevivência de pessoas e animais. José Silvestre Ribeiro proveu a ilha prontamente com 90 pipas de água e mandou abrir poços e valas. Na noite de 20 de Agosto uma forte chuvada veio aliviar a crise.
Devido à emigração para os Estados Unidos durante as décadas de 1950, 1960 e 1970, e à migração interna que ainda afeta a ilha, o concelho de Santa Cruz da Graciosa entrou num rápido processo de recessão demográfica que na atualidade condiciona em muito a sustentabilidade socioeconômica da sociedade graciosense.

Nenhum comentário:

Postar um comentário