Páginas

sábado, 5 de janeiro de 2013

SANTA ISABEL DO RIO NEGRO: MUNICÍPIO 90% INDÍGENA PRECISA CRIAR NOVOS DISTRITOS


Ficheiro:Santa Isabel do Rio Negro.svg

Na última década do século XX, o município de Santa Isabel do Rio Negro (Tapuruquara), no Estado do Amazonas, passava por um processo de transformação sócio-polítco-cultural. Nos primeiros anos da década de 1990 houve uma grande invasão garimpeira entre a foz do rio Marie e a cidade de Santa Isabel. Os garimpeiros após serem expulsos do rio Cauboris (Área Indígena Yanomami) ficaram na calha do rio Negro. Os impactos socioambientais dessa invasão foram diversas: introdução de uma grande quantidade de pessoas estranhas, aumento de entrada de bebidas alcoólicas e outras drogas, degradação dos canais naturais de navegação, surgimento de cadáveres no rio, mortes por arma de fogo a luz do dia, roubos, encarecimento dos preços dos alimentos e demais produtos de primeira necessidade, prostituição, contaminação do rio por mercúrio.
Com 38 comunidades Rurais, sendo nenhuma dessas reconhecidas como localidade ou distrito pelo IBGE, torna-se confusa a divisão de Santa Isabel do Rio Negro, já que 90% da população se considera de alguma etnia indígena. Dentro de grandes Vazios demográficos na área rural do município destacam-se algumas comunidades Rurais que passam dos 100 habitantes no aglomerado urbano, dentre essas destacam-se:
Tabocal do Uneiuxi, Nazaré do Uneiuxi, Matozinho, Monte Alegre, Acariquara, São Francisco, Roçado, Ilhinha,Cacuri, Jutaí, Piracema, Ilha do Chile, Paricatuba, Perseverança, São Gerônimo, São João, São Tomé, Acará, Cartucho, Castanheiro, Uabada I, ilha do Taiaçu. A proposição para 2013 seria a criação de 2 distritos em Santa Isabel do Rio Negro: Nazaré do Uneiuxi e Tabocal do Uneiuxi, até podendo vir a ser distrito a comunidade de Ilhinha, mas tudo depende da nova administração municipal que assume a prefeitura.
Os moradores das ‘comunidades isabelenses’ ficaram expostas a essa transformação. Os garimpeiros não tinham nenhum interesse no melhoramento da qualidade de vida daquelas populações - somente no ouro. Para fazer frente a essa invasão foi necessário uma grande mobilização de várias instituições entre elas a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), IBAMA, Polícia Federal e a Prefeitura Municipal de Santa Isabel do Rio Negro (Prefeito Sérgio da Silveira Cardador 1993/96). O resultado dessa parceria foi a expulsão dos garimpeiros do rio Negro.

No sentido de garantir a preservação sócio-político-cultural das populações que lá moravam, houve a mobilização para discutir a possível identificação, demarcação e homologação daquelas terras, tendo em vista que a população daquelas comunidades era ‘indígenas’ e precisavam da garantia constitucional dos seus direitos.

Foram realizadas grandes mobilizações que resultou na formação de uma das primeiras organizações indígenas no médio rio Negro - a Comissão de Articulação das Comunidades Indígenas e Ribeirinhas (CACIR/1992), sediada na comunidade indígena de Uabada II, Ilha de Uábada. Na sede do município só aconteceu a primeira grande assembléia indígena em 1994, que resultou na formação da segunda organização indígena sediada na cidade - a Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro (ACIMRN). Essas mobilizações tiveram apoio do Centro Indigenista Missionário (CIMI), Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) e apoio local dos Salesianos. As organizações formadas assumiram o compromisso de lutar pela garantia dos direitos indígenas, pela demarcação das terras, pela educação, saúde e valorização cultural.

Entre as realizações da ACIMRN, o Levantamento Socioambiental realizada na cidade de Santa Isabel é de fundamental importância, pois, mostra que 80,96% declaram pertencer a um etnia indígena. Desses 59,38% declaram pertencer a etnia Baré. Outras etnias declaradas foram Tukano, Baniwa, Pira-Tapuia, Tariano, Desana, Arapasso, Tuyuca, Cubeo e Curipaco.

Se levar em consideração a população das comunidades indígenas do município pode-se chegar a um percentual de 90%. Esse percentual já era divulgado pelos membros da Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro (ACIMRN) e o Levantamento Socioambiental veio a confirmar.

Embora seja visível o avanço do Movimento Indígena no município, alguns desafios precisam ser superados. Entre os quais pode ser citada a ausência de apoio financeiro institucional para as associações indígenas. Esse apoio poderia dar maior mobilidade e dedicação exclusiva das lideranças ao movimento. Pois, atualmente, a maioria dos membros da diretoria divide seu tempo com o emprego público. Também, pode ser citado, o embate político entre os membros da diretoria. Esse de âmbito interno.

Contrastando os avanços e os desafios do Movimento Indígena no município de Santa Isabel do Rio Negro, o fato evidente é a autodeclaração de pertencimento a uma etnia indígena. Isso pode ser interpretado como uma ação do Movimento Indígena na cidade que até a década de 1980 não se falava na existência de indígenas no município. Hoje é possível afirmar que a população do município é de 90% indígena.

Um comentário:

  1. Prezado editor Aurelio

    Parabéns pelo texto e pela pesquisa.

    Sou favorável a total redivisão politica do país.
    Daí, tenho acompanhado as publicações e, muitas vezes municiado o meu blog com as matérias publicas no seu.

    Quando puder, visite o meu blog

    http:vidaexpressovida.blogspot.com.br

    Abraços,

    Feliz ano novo,

    Roberto

    ResponderExcluir