Cidades fortificadas poligonais
publicado em arquitetura por seven |
As cidades são realmente um tema fascinante. Se por regra nascem espontaneamente por acumulação de construções junto a um rio ou a um caminho, também as há que são preconcebidas, o seu traçado ditado pela geometria, pela imaginação e pela abstracção do Homem. São fascinantes porque, aparentemente, contradizem tudo o deve ser uma cidade. É nisso que se pensa quando se olha para uma cidade como Almeida, situada no distrito da Guarda, em Portugal, com a sua improvável forma estrelada.
A cidade é bastante antiga e, mercê da sua localização geográfica estratégica, desde sempre possuiu vocação militar. Durante o século XVIII desempenhou um importante papel defensivo aquando das invasões francesas, altura em que foi reforçada e ampliada para o seu estado actual. Mas porquê a forma hexagonal estrelada?
As fortificações poligonais datam do século XV. O seu desenho é atribuído ao arquitecto italiano Filarete como resposta às novas armas, tais como canhões e bombardas, que o exército francês possuía e com que atacava as cidades italianas. Com esta forma não só as muralhas ficavam menos expostas às armas inimigas como também se dispunha de múltiplos ângulos de fogo ofensivo e defensivo, os famosos bastiões triangulares - as "pontas" da estrela.
Durante os duzentos ou trezentos anos que se seguiram a engenharia militar desenvolveu este modelo, acrescentando-lhe torreões, fossos e redutos, tornando-o num caso de sucesso que se disseminou rapidamente por toda a Europa. Apenas já no século XIX o aparecimento dos projécteis explosivos, os obuses, veio tornar obsoletas as capacidades defensivas deste tipo de cidades.A expansão colonial das grandes potências europeias da época - Inglaterra, França, Portugal - arrastou atrás de si o arquétipo da cidade poligonal que veio a revelar-se bastante adequado em territórios hostis. É esse o motivo porque encontramos actualmente cidades fortificadas de planta estrelada um pouco por todo o mundo, dos EUA ao Japão, triunfo de um conceito abstracto sobre a natureza genuína da cidade, nem por isso menos fascinante.
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