A Reserva Biológica Marinha do Atol das Rocas é um pequeno arquipélago de duas ilhas que pertence ao estado do Rio Grande do Norte no Brasil. É o único atol do oceano Atlântico Sul compreendendo 360 000 m² (incluindo o atol e as águas que o circundam). Fica a 260 quilômetros a nordeste de Natal, capital do estado, e 145 km a noroeste do arquipélago de Fernando de Noronha.
Os nomes das duas ilhas são Ilha do Farol e Ilha do Cemitério; sua área total é de 0,36 km².
História e geografia
O atol foi descoberto pela expedição do navegador português Gonçalo Coelho em 1503 à costa do Brasil. Devido à pouca profundidade nas suas águas, a navegação nesse trecho da costa é muito perigosa.Tem uma enorme importância ecológica fundamental por sua alta produtividade biológica e por ser uma importante zona de abrigo, alimentação e reprodução de diversas espécies animais.
Separado do continente pelo oceano, o Atol das Rocas está entre um dos menores do planeta: seu perímetro tem apenas sete quilômetros – seu eixo leste-oeste tem 3,7 km e o norte-sul não ultrapassa a 2,5 km. Com forma de uma elipse quase circular, esse antigo topo de vulcão funciona hoje como um enorme berçário vivo de muitas espécies. Todos os anos milhares de aves e centenas de tartarugas-verdes retornam para lá para desovar. O local também é área de abrigo e alimentação da tartaruga-de-pente.
Ao lado do Arquipélago de Fernando de Noronha, o Atol das Rocas é considerado uma das áreas mais importantes para a reprodução de aves marinhas tropicais do País, abrigando pelo menos 150 milhares de aves, de quase 30 espécies diferentes. Atualmente vivem, o ano todo, cinco espécies de aves residentes: duas de atobás, uma de trinta-réis ou andorinha do mar e duas de viuvinhas, os atobás-de-patas-vermelhas e as fragatas vem de Fernando de Noronha para pescar. Além delas, 25 espécies migratórias fazem de Rocas um porto permanente. Passam por ali espécies originárias da Venezuela, da África e até maçaricos provenientes da Sibéria. Até o momento, nenhuma espécie potencialmente predadora foi catalogada no Atol das Rocas.
O atol é também o paraíso de muitas espécies aquáticas. Por se tratar de uma montanha isolada, em meio a mares profundos e afastados da costa, ele é ideal para peixes de todos os tamanhos, moluscos, algas, crustáceos e tartarugas. Quase cem espécies de algas, 44 de moluscos, 34 de esponjas, sete espécies de coral e duas espécies de tartarugas já foram ali identificadas. Entre os 24 crustáceos, destacam-se o caranguejo terrestre e o aratu, que somente habitam ilhas oceânicas.
Em Rocas foram ainda catalogadas quase 150 espécies de peixes diferentes, entre os sargos, garoupas e xaréus. Mas apenas duas dessas espécies, o gudião e a donzela são exclusivas da região, que abrange o Atol das Rocas e o Arquipélago de Fernando de Noronha, o tubarão-limão, uma espécie rara em Rocas tem motivado estudos de vários cientistas brasileiros e estrangeiros, a espécie passa o início da vida em cardumes, na laguna e nas piscinas do atol.
De um branco característico, as areias do Atol das Rocas são classificados como falsas, pois derivam apenas do calcário moído de incontáveis fragmentos de conchas, ossos de aves e de peixes e de detritos vegetais (esqueletos de seres chamados vermetos), que ocuparam as rochas vulcânicas, estabilizando a faixa de recifes emersa, geralmente na forma de um círculo ou semicírculo, com uma lacuna no meio. Em Rocas, as areias acumularam-se em duas faixas, em forma de anel aberto, compondo a Ilha do Farol e a Ilha do Cemitério, já citadas anteriormente.
Na maré alta, as duas ilhas ficam emersas. Já na maré baixa surgem na área interior do atol várias piscinas naturais, de tamanhos e profundidades variadas, que funcionam como berçários para diversas espécies marinhas.
O Atol das Rocas é a primeira Reserva Biológica Marinha do Brasil criada no Brasil, em 5 de junho de 1979, pelo Decreto-lei n.º 83549, constituindo-se desse modo numa reserva biológica em que a única atividade humana permitida é a pesquisa científica.
Um pedido de instalação de um farol na ilha principal das Rocas (ilha do Farol, sendo a outra ilha chamada de ilha do Cemitério), foi feito desde o ano de 1852 pelos comandantes estrangeiros Lee, Parish, Selwyn e pelos brasileiros Vital de Oliveira e Alves Nogueira, como indispensável para a segurança da navegação naquelas ermas paragens, pois pela baixa altitude das Rocas e na falta de uma luz, os naufrágios ali eram freqüentes, mas não tanto quanto vieram afirmar vários autores.
Só em 1881, o capitão-tenente Honorário J. M. da Conceição Júnior, foi incumbido de ali montar um farol. Auxiliou os trabalhos, o coronel de engenharia João de S. Melo e Alvim, para fazer o estudo do local e a verificação da possibilidade da instalação do aparelho luminoso encomendado à França. Melo e Alvim fez sondagens para exame do recife, sondagens estas que atingiram a seis metros de profundidade na atual ilha do Farol, encontrando sempre muita dificuldade e em alguns furos resistência quase que absoluta. A perfuração era feita com ponta aguda de aço temperado, sobrecarregada com um peso de 115 quilos, havendo ocasiões de só haver penetração de um centímetro por hora, tendo-se partido o aparelho por duas vezes.
Feito o estudo dos recifes, concluiu Melo e Alvim, não ser conveniente a colocação do farol encomendado, em razão de suas grandes proporções e de sua impropriedade naquele local, pois o mesmo - julgava ele - não tinha a base suficiente para resistir à resultante dos fortes e constantes ventos da região. O farol então veio a ser aproveitado para Santo Agostinho, em Pernambuco, e nas Rocas foi instalado provisoriamente uma luz fixa, no tope de um mastro de madeira, com 14 metros de altura, inaugurada no dia primeiro de janeiro de 1883. Mas em 1884 esse mastro veio a ser substituído, devido ao seu péssimo estado de conservação. Quando se decidiu por esta mudança já tinham sido iniciadas algumas obras; ou seja, estavam construídas: uma larga base de alvenaria, com uma altura de 1,1 metros; a casa dos faroleiros por acabar; depósito de água com capacidade para 20 pipas e 4 galpões para guardar materiais. Tudo isto foi feito debaixo de grandes dificuldades, principalmente durante o transporte do material do navio para a ilha. Os homens passaram por muitos riscos de não só perder o que transportavam, mas as próprias vidas.Assim, se ocuparam em 35 dias de trabalho áspero e perigoso. Para a construção das casas dos faroleiros e do farol pediram 600 toneladas de pedra, 200 de areia e 700 barricas de cimento. Este material parece não ter sido todo desembarcado e nem fornecido, por não ter sido construído o farol antes para ali planejado.
No relatório de 1883, o Ministro da Marinha concluiu que nas Rocas se devia levantar uma torre de alvenaria, a qual era a estrutura mais apropriada para aquela localidade. No entanto, só em 1935 foi construído um farol de cimento armado.Em 1887, a bordo do Purús seguiu pessoal e material para concluir as obras das casas dos faroleiros. Em 1890, o almirante francês Mouchez se referia a elas, comentando que tinham dois pavimentos, de paredes cinzentas e teto de telhas vermelhas. E que a casa e o depósito que se encontravam ao lado eram os primeiros objetos que se percebiam por quem navegava ao largo, numa distância de 5 milhas.
Em 1892, foi feita uma encomenda para uma empresa de Paris, de um farol de terceira ordem, tendo este chegado no ano seguinte, ficando depositado em Pernambuco. Em 1906 foi feito outro orçamento para a construção definitiva do foral nas Rocas, porém, em 1908, o Almirante Jaceguai, resolveu montá-lo na ilha Rata, em Fernando de Noronha, e entregou ao Estado de Pernambuco um verba destinada para colocar um poste de luz nas Rocas. Este aparelho foi inaugurado em 8 de dezembro de 1908, consistindo numa armação de ferro, ao noroeste do Atol da Rocas, exibindo luz branca e ficava a 18,5 metros acima do nível do mar. Em 6 de outubro de 1914 foi o farol transformado em automático, sistema AGA.
Em 1935, ficou resolvida a construção de um farol nas Rocas de cimento armado. Para isso foram empregadas cinco toneladas de vergalhões, 20 metros cúbicos de areia e cerca de 100 sacos de cimento. E no dia 20 de agosto de 1935 foi inaugurado o farol das Rocas. Hoje a torre de alvenaria se encontra em ruínas.Foi desativado em 1969, estando em ruínas juntamente com a casa do faroleiro e a cisterna que acondicionava água potável.
Em 1967, foi inaugurado o farol que permanece em atividade até hoje. É constituído por armação quadrangular metálica, pintada de branco, refletor radar, altura de 14 metros e altitude do foco de 18 metros, com válvula solar e carga de gás acetileno com 12 acumuladores, latitude 03º 51' 42" S e longitude 33º 49' 16" W, alcance luminoso de 13 milhas. Em 1986 o farol foi eletrificado, com a substituição de acumuladores por baterias, instalação de painel solar e troca da lanterna.
Os faroleiros do Atol das Rocas
Até 1914 quando transformaram o farol das Rocas em automático, foram inúmeros os faroleiros que lá trabalharam e isto, desde o dia primeiro de janeiro de 1883. Decerto alguns deles entraram para a história. Mas infelizmente seus dramas estão espalhados em vários documentos. Entretanto se consegue arrolar alguns fatos de relativa importância que envolveram alguns daqueles anônimos faroleiros - de vida modesta , que sob o sol, a chuva, o frio, nada os fazia esmorecer em seu labor de vigília noturna. Quem visitava o farol das Rocas naquela época - isolado no meio do oceano - conseguia avaliar a maneira sofrida de viver de seus heróicos faroleiros e daqueles que os acompanhavam, ou seja, as suas famílias.
E, realmente, Rocas parece ter uma aura de dificuldade ao seu redor. Em 1887, foi ali construída uma casa para um faroleiro e sua família. Conta-se, com voz baixa e consternada, que um certo dia, a pequena filha do casal, sem saber o que fazia, deixou a torneira do reservatório de água potável aberta, até que não houvesse uma gota. Desesperado, o faroleiro teria colocado fogo na casa, na esperança de chamar a atenção de algum navio. O que de fato conseguiu, após muitos dias, quando toda a sua família já havia morrido. Ele estava vivo por ter tomado o sangue de pássaros, mas não resistiu à viagem, morrendo antes de chegar ao continente.
Em 14 de outubro de 1904, o faroleiro Gregório Vitoriano de Castro, faleceu nas Rocas, sendo sepultado na ilha que batizaram de Cemitério. Nas Rocas existe apenas duas ilhas e certamente o batismo dado aquela ilha proveio do fato de que era ali que se enterrava os mortos dos naufrágios. Também nas Rocas viera a falecer, a esposa do faroleiro Antônio Augusto da Câmara; contudo ela não foi sepultada na Ilha do Cemitério e sim, próximo ao único coqueiro existente na Ilha do Farol naquela época.
Encontra-se registrado que o faroleiro João da Silva Saraiva que residiu nas Rocas por cerca de oito anos, veio certa vez, sofrer as agruras da falta d’água, com o seus três filhos que lá nasceram, uma vez que o navio de abastecimento demorou em chegar. Mas João da Silva, procurou todos os meios de obter socorro, entre os quais, o de lançar garrafas contendo no interior, mensagens escritas, explicando o que lhe vinha acontecendo. Porém ao mesmo tempo, tentava conseguir água para beber, fervendo a do mar numa vasilha, da qual fazia de tampa um chapéu, cujo pano se impregnava de vapor d’água que se condensava em pequenas gotas. Consta que as garrafas foram dar à costa e o navio encarregado do abastecimento chegou ainda a tempo de terminar com o sofrimento do faroleiro e de sua família.
Outro que sofreu com a falta de recursos, foi o faroleiro Virgílio Francisco Ramos, isto em abril de 1913. Achava-se ele com a família quando o navio que fazia o serviço de abastecimento, de dois em dois meses, atrasou-se.Mas antes disso, Virgílio e sua família tiveram que lançar mão de peixes e ovos de pássaros, os quais foram os alimentos nos primeiros quinze dias. Contudo, passando este tempo, os seus organismos se ressentiram e iniciou-se para eles um novo período de angustia. Felizmente, um navio inglês, que passando ao largo, foi contactado por Virgílio através de sinais, ao hastear as bandeiras do Código Internacional de Sinais, solicitando socorro. O navio então rumou em direção das Rocas, onde veio fornecer-lhe carne em conserva, arroz e açúcar. O faroleiro entregou ao capitão inglês, uma carta endereçada as autoridades de terra, pedindo imediata providência. Logo o navio da Marinha Benjamim Constant, transportou para as Rocas, os víveres que o faroleiro e sua família tanto necessitavam. A história conta, que esta teria sido a última família a morar ali, e que resolveram voltar para Noronha, quando da automatização do farol. Nascidas e criadas nas Rocas, as duas filhas do faroleiro morreram ao chegar em Noronha. Por terem sido criadas ali, não haviam desenvolvido nenhuma imunidade as doenças.
Um ano depois, precisamente em 6 de outubro de 1914 foi o farol das Rocas transformado em automático, dando término aos labores e sacrifícios impostos aos faroleiros e suas famílias, em um lugar marcado por tão grande isolamento e tragédias marítimas. Atualmente ainda se pode ver as ruínas da antiga casa dos faroleiros.
O sofrimento dos faroleiros no Atol das Rocas,no Rio Grande do Norte, atualmente é substituído por tecnologia e uma estação científica que abriga cientistas e a chefe da reserva biológica ZeliZ Brito.
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